Em
meados da década de 90 muitos de nós presenciamos a implantação de laboratórios
de informática nas escolas e universidades em decorrência da popularização dos
computadores no mercado. Esta iniciativa, iniciada principalmente nas redes
privadas de ensino, permitiu que estudantes de várias idades em diferentes
níveis educacionais pudessem ter contato com um mundo digital.
Hoje
em dia talvez seja obsoleta a proposta de montar laboratórios de informática
nas escolas com objetivo ensinar informática básica aos estudantes, tendo em
vista que segundo Raabe e Gomes (2018), nossos estudantes já nascem inseridos
num universo altamente tecnológico e que desde a primeira fase da infância até
os anos finais do ensino fundamental já sabem utilizar alguns artefatos digitais
para acessar a internet, fazer pesquisas, jogar, etc. De acordo com os autores,
nos últimos anos, uma nova forma de utilizar as tecnologias surgiu através do
chamam de “Movimento Maker”.
Para
Martinez e Stager (2016) o fundador desse movimento foi Saymour Pappert,
educador estadunidense nascido na África do Sul e que teve sua obra
fundamentada no Construcionismo, apoiada pelo construtivismo de Jean Piaget
(1973). De acordo com os autores, o movimento vai além ao que diz respeito à
construção do conhecimento, uma vez que segundo eles acontece de maneira mais
efetiva quando os aprendizes estão engajados no desenvolvimento de objetos
públicos e compartilháveis.
Ainda
dentro do aspecto epistemológico, Filatro e Cavalcanti (2018) nos apontam que
tal movimento é embasado por uma perspectiva de aprendizagem ativa ancorada no
conceito de aprendizagem experiencial. Segundo as autoras, os sujeitos
inseridos no mundo maker participam
ativamente dos processos daquilo que tentam desenvolver, no estilo “fazendo com
as próprias mãos”.
O fenômeno maker
se expandiu tanto na esfera global que ser visto nos dias de hoje como um tipo
de cultura. Os makers (termo utilizado
para designar os sujeitos inseridos nessa cultura) tendem a se apropriar de ferramentas e artefatos para a produção
de objetos utilizando recursos e modelos digitais, como impressoras 3D,
máquinas de corte a laser, etc., para desenvolverem projetos e/ou
experimentarem na prática algo que possa aumentar seu desempenho na vida e nos
estudos. Porém vale ressaltar que nem sempre são necessários recursos de valor
comercial relativamente alto para que um ambiente desse porte se estabeleça.
Analisando
por essa ótica, acredito pode ser relevante o fato de integrar a filosofia maker com o currículo nas escolas e
universidades, pois ao vivenciá-la, permitimos que os sujeitos envolvidos possam
desenvolver habilidades e competências que lhes serão úteis, permitindo-lhes
estar mais preparados para enfrentar os desafios do presente e quem sabe do
futuro.
Todavia,
para que tal movimento seja implantado nas escolas de ensino básico, necessitamos
de profissionais que estejam apropriados de técnicas e elementos próprios da
cultura maker. Portanto, analisando o
cenário atual e percebendo que ainda existe uma carência da implantação espaços
destinados a aprendizagem experiencial (típica dessa cultura) nas instituições
de ensino básico, podemos pensar que ainda falta aos cursos de licenciatura a
implantação da cultura maker em
algumas áreas do ensino superior. Talvez um dos motivos seja o mesmo da escola
básica: falta de profissionais capacitados.
Uma
das ferramentas que podem suprir essa necessidade nas universidades, são os Fab labs, abreviação do termo em inglês Fabrication Laboratories, que remete a
laboratórios de fabricação e que podem ser entendidos como espaços de
prototipagem de objetos físicos (FILATRO; CAVALCANTI, 2018). De acordo com as
autoras, um dos aspectos inovadores desses ambientes é o fato de serem “abertos”
a qualquer pessoa que queira utilizá-los, com baixo ou nenhum custo e em
horários estabelecidos para serem utilizados. Tais ambientes são elementos originalmente
presentes no movimento maker e é
perceptível que vêm se multiplicando a cada dia, nos mais variados locais e
áreas, como nas corporativas e educacionais.
Eychenne e Neves (2013) nos apontam que esses "laboratórios de fabricação" são
parte integrante de um sistema colaborativo global que usa recursos da internet
e web 2.0 para compartilhamento de
ideias, cooperação, interdisciplinaridade e aprendizagem em função da
participação da comunidade.
Nesse aspecto, pode-se prever que a inserção desses
espaços em universidades que oferecem cursos de licenciatura tem potencial para
promover aprendizagem através da interação entre professores e alunos dentro da
proposta maker, fazendo assim que os
futuros docentes estejam capacitados para desenvolver projetos ou inserir essa
cultura em suas unidades de ensino objetivando atender a algumas necessidades e
anseios dos estudantes do nosso tempo, proporcionando o protagonismo em seu
próprio processo aprendizagem a partir da apropriação de algumas competências e
habilidades inerentes a cultura do “faça você mesmo”.
Espero que tenham gostado do post de
hoje. Aproveite e deixe um comentário sobre o que acha da cultura maker ser
implantada na educação.
Abaixo você encontra uma imagem com o link para uma matéria do site ecycle.com, que traz mais detalhes sobre a cultura maker e hiperlinks para produção de alguns materiais e produtos, no melhor jeito "faça você mesmo"!
Um
abraço e até breve!
REFERÊNCIAS
EYCHENNE, F.; NEVES, H. Fab lab: a vanguarda da nova revolução industrial. São Paulo: Editorial Fab Lab Brasil, 2013.
FILATRO, A. CAVALCANTI, C.
C. Metodologias inov-ativas na educação
presencial, a distância e corporativa. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
MARTINEZ, S. L.; Stager, G. Invent
to Learn: Making, Thinkering and
Engineering in the Classroom. Constructing Modern Knowledge Press. Torrance, California. 2013.
PIAGET,
J. A Epistemologia Genética. 2ª ed.
Petrópolis: Rio de Janeiro. Editora Vozes. 1973.
RAABE, André; GOMES, Eduardo
Borges. Maker: uma nova abordagem para tecnologia na educação.
2018. Disponível em: https://tecedu.pro.br/wp-content/uploads/2018/09/Art1-vol.26-EdicaoTematicaVIII-Setembro2018.pdf.
Acesso em 28/10/2019.