quarta-feira, 30 de outubro de 2019

CULTURA MAKER NA EDUCAÇÃO



Em meados da década de 90 muitos de nós presenciamos a implantação de laboratórios de informática nas escolas e universidades em decorrência da popularização dos computadores no mercado. Esta iniciativa, iniciada principalmente nas redes privadas de ensino, permitiu que estudantes de várias idades em diferentes níveis educacionais pudessem ter contato com um mundo digital.

Hoje em dia talvez seja obsoleta a proposta de montar laboratórios de informática nas escolas com objetivo ensinar informática básica aos estudantes, tendo em vista que segundo Raabe e Gomes (2018), nossos estudantes já nascem inseridos num universo altamente tecnológico e que desde a primeira fase da infância até os anos finais do ensino fundamental já sabem utilizar alguns artefatos digitais para acessar a internet, fazer pesquisas, jogar, etc. De acordo com os autores, nos últimos anos, uma nova forma de utilizar as tecnologias surgiu através do chamam de “Movimento Maker”.

Para Martinez e Stager (2016) o fundador desse movimento foi Saymour Pappert, educador estadunidense nascido na África do Sul e que teve sua obra fundamentada no Construcionismo, apoiada pelo construtivismo de Jean Piaget (1973). De acordo com os autores, o movimento vai além ao que diz respeito à construção do conhecimento, uma vez que segundo eles acontece de maneira mais efetiva quando os aprendizes estão engajados no desenvolvimento de objetos públicos e compartilháveis.

Ainda dentro do aspecto epistemológico, Filatro e Cavalcanti (2018) nos apontam que tal movimento é embasado por uma perspectiva de aprendizagem ativa ancorada no conceito de aprendizagem experiencial. Segundo as autoras, os sujeitos inseridos no mundo maker participam ativamente dos processos daquilo que tentam desenvolver, no estilo “fazendo com as próprias mãos”.

 O fenômeno maker se expandiu tanto na esfera global que ser visto nos dias de hoje como um tipo de cultura. Os makers (termo utilizado para designar os sujeitos inseridos nessa cultura) tendem a se apropriar de ferramentas e artefatos para a produção de objetos utilizando recursos e modelos digitais, como impressoras 3D, máquinas de corte a laser, etc., para desenvolverem projetos e/ou experimentarem na prática algo que possa aumentar seu desempenho na vida e nos estudos. Porém vale ressaltar que nem sempre são necessários recursos de valor comercial relativamente alto para que um ambiente desse porte se estabeleça.

Analisando por essa ótica, acredito pode ser relevante o fato de integrar a filosofia maker com o currículo nas escolas e universidades, pois ao vivenciá-la, permitimos que os sujeitos envolvidos possam desenvolver habilidades e competências que lhes serão úteis, permitindo-lhes estar mais preparados para enfrentar os desafios do presente e quem sabe do futuro.

Todavia, para que tal movimento seja implantado nas escolas de ensino básico, necessitamos de profissionais que estejam apropriados de técnicas e elementos próprios da cultura maker. Portanto, analisando o cenário atual e percebendo que ainda existe uma carência da implantação espaços destinados a aprendizagem experiencial (típica dessa cultura) nas instituições de ensino básico, podemos pensar que ainda falta aos cursos de licenciatura a implantação da cultura maker em algumas áreas do ensino superior. Talvez um dos motivos seja o mesmo da escola básica: falta de profissionais capacitados.

Uma das ferramentas que podem suprir essa necessidade nas universidades, são os Fab labs, abreviação do termo em inglês Fabrication Laboratories, que remete a laboratórios de fabricação e que podem ser entendidos como espaços de prototipagem de objetos físicos (FILATRO; CAVALCANTI, 2018). De acordo com as autoras, um dos aspectos inovadores desses ambientes é o fato de serem “abertos” a qualquer pessoa que queira utilizá-los, com baixo ou nenhum custo e em horários estabelecidos para serem utilizados. Tais ambientes são elementos originalmente presentes no movimento maker e é perceptível que vêm se multiplicando a cada dia, nos mais variados locais e áreas, como nas corporativas e educacionais.

Eychenne e Neves (2013) nos apontam que esses "laboratórios de fabricação" são parte integrante de um sistema colaborativo global que usa recursos da internet e web 2.0 para compartilhamento de ideias, cooperação, interdisciplinaridade e aprendizagem em função da participação da comunidade. 

Nesse aspecto, pode-se prever que a inserção desses espaços em universidades que oferecem cursos de licenciatura tem potencial para promover aprendizagem através da interação entre professores e alunos dentro da proposta maker, fazendo assim que os futuros docentes estejam capacitados para desenvolver projetos ou inserir essa cultura em suas unidades de ensino objetivando atender a algumas necessidades e anseios dos estudantes do nosso tempo, proporcionando o protagonismo em seu próprio processo aprendizagem a partir da apropriação de algumas competências e habilidades inerentes a cultura do “faça você mesmo”.


Espero que tenham gostado do post de hoje. Aproveite e deixe um comentário sobre o que acha da cultura maker ser implantada na educação.


Abaixo você encontra uma imagem com o link para uma matéria do site ecycle.com, que traz mais detalhes sobre a cultura maker e hiperlinks para produção de alguns materiais e produtos, no melhor jeito "faça você mesmo"!





Um abraço e até breve!



REFERÊNCIAS


EYCHENNE, F.; NEVES, H. Fab lab: a vanguarda da nova revolução industrial. São Paulo: Editorial Fab Lab Brasil, 2013.

FILATRO, A. CAVALCANTI, C. C. Metodologias inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MARTINEZ, S. L.; Stager, G. Invent to Learn: Making, Thinkering and
Engineering in the Classroom. Constructing Modern Knowledge Press. Torrance, California. 2013.

PIAGET, J. A Epistemologia Genética. 2ª ed. Petrópolis: Rio de Janeiro. Editora Vozes. 1973.

RAABE, André; GOMES, Eduardo Borges. Maker: uma nova abordagem para tecnologia na educação. 2018. Disponível em: https://tecedu.pro.br/wp-content/uploads/2018/09/Art1-vol.26-EdicaoTematicaVIII-Setembro2018.pdf. Acesso em 28/10/2019.

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